Rua Nascimento Silva, 107

No apartamento localizado em Ipanema, Tom Jobim criou entre 1953 e 1962 canções e discos que colaboraram para definir a bossa nova.

Lia Machado Alvim 08/12/10 17:15 - Atualizado em 08/12/10 17:15

O apartamento e o morador: na rua Nascimento Silva, 107, em Ipanema, Tom Jobim criou entre 1953 e 1962 obras que se tornariam clássicas, como \"Chega de saudade\". (Lia Machado Alvim / Reprodução)

Sempre foi uma curiosidade saber como era o prédio da rua Nascimento Silva, 107, no Rio de Janeiro.

Lugar onde Vinicius de Moraes dizia que, Tom Jobim e ele, ensinaram Elizeth Cardoso a cantar as belas canções do álbum histórico Canção do amor demais (1958).

Este foi o endereço de Tom Jobim entre 1953 e 1962. Tom alugou o apartamento em Ipanema com sua primeira mulher, Tereza Hermanny.

Como diz a letra da canção que Vinicius e Toquinho fizeram para Tom: “...da janela vê-se o Corcovado, que lindo!” (“Carta ao Tom”).

Ali nasceu outro álbum histórico, Chega de saudade (1959), de João Gilberto. Foram geradas ainda as canções da peça Orfeu da Conceição, de Tom e Vinicius. O compositor Newton Mendonça, parceiro de Jobim, foi um dos frequentadores assíduos deste apartamento, terreno que testemunhou o nascimento de “Desafinado”.

Durante uma série de entrevistas que fiz no Rio de Janeiro para o programa A Voz Popular, passei pela rua Nascimento Silva e, quando me dei conta de onde estava, pedi para o taxista parar um minuto. De dentro do carro, tirei a foto que ilustra esta coluna. Ao me ver fotografando, o motorista, que já havia comentado que Jobim morara ali, repetia os dizeres de uma placa colocada na frente do prédio: “Aqui viveu o músico, compositor e poeta, o maestro Antonio Carlos Jobim (1927-1994)” – escrita pela Confraria do Copo Furado.

Depois disso, descobri que este motorista trabalhou em TV por muitos anos, sabia onde todos os artistas moravam e conhecia muitas histórias de suas vidas. Era o bem-humorado e gentil Miguel Renato Macedo Bastos, mais conhecido na praça como Renato.

Na letra da canção “Carta ao Tom”, Vinicius sente saudades do amor que já não era vivido da mesma forma, e propõe reinventarem o amor...

Na resposta bem encaixada sobre música de Toquinho, Jobim com Chico Buarque refazem com humor a letra narrando como estava o Rio naquela época: Tom corre de um pivete, as janelas dos apartamentos são menores, o número de edifícios aumenta rapidamente, a natureza se degrada, o amor não tem mais pretensão de ser eterno, já pode ser loteado... (“Carta do Tom”).

Juntas, elas estão no álbum gravado ao vivo no Canecão durante show de Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha. A direção do espetáculo foi de Aloysio de Oliveira e aconteceu em novembro de 1977.

Tom Jobim morreu longe da casa que construiu com muito esmero e carinho no meio da floresta, no Jardim Botânico, onde morou com sua segunda mulher, Ana Lontra e seus filhos mais novos, João e Luiza. Naquele início de dezembro de 1994, o músico passou alguns dias em seu apartamento em Nova York, preparando-se para uma cirurgia que foi realizada no hospital Monte Sinai, onde faleceu no dia 8.
 

 

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