Laurindo de Almeida

De passagem pelo Brasil em 1987, um dos maiores violonistas brasileiros cedeu uma entrevista para um dos grandes do rádio, Fausto Canova.

eduardo Weber 25/09/12 10:50 - Atualizado em 25/09/12 10:50

Paulista de Miracatu, o ex-Modern Jazz Quartet Laurindo de Almeida foi um dos responsáveis por introduzir o violão brasileiro no jazz norte-americano. Seu último álbum foi Naked Sea (1995), com o gaitista Danny Welton. Acima, em foto tirada em outubro de 1987. (Flávio Bacellar / CEDOC FPA)

Uma coluna de histórias. Algumas reais. Outras, da pura fantasia de quem escreve.

Em 1987, eu produzia o Estúdio 1200, que tinha como apresentador Fausto Canova, um dos nomes do rádio da minha adolescência, a quem ouvia e gostava demais, pelo jeito de falar, pelo conhecimento musical, pela segurança, pela voz e até mesmo pelo bom humor de sempre, mesmo quando o Palmeiras perdia.

O Estúdio 1200 era uma revista cultural. Música, cinema, teatro, dança, cidade e tudo o que envolve artes era tratado nesse programa de duas horas diárias de duração. Na época, apresentava-se em São Paulo um dos grandes nomes do violão brasileiro: Laurindo de Almeida (1917-1995). Na verdade, grande parte do público pouco sabia sobre a carreira desse violonista muito conhecido e admirado nos Estados Unidos, pra onde se mudou em 1947.

Comentei com o Fausto da minha intenção de trazê-lo ao programa para uma entrevista ao vivo. Ele gostou da ideia, mas foi categórico: ”Ele estar aqui, na Água Branca, nessa lonjura toda, às nove da manhã? Nem pensar!”. De fato. O Laurindo fazia uma temporada no 150 Night Club, do Maksoud Plaza, e dificilmente aceitaria o convite. Entrei em contato e a situação ficou bem pior: ele não queria dar entrevista pra ninguém.

A resposta não me convenceu. Puxei da memória algumas informações e fui conversando com o músico, por telefone. Falei que a entrevista seria feita por um cara que conhecia muito de seu trabalho, desde os tempos da Rádio Mayrink Veiga. Reforcei dizendo que ele, Laurindo, o conhecia, pois o havia recebido em sua casa em Los Angeles, mais ou menos 15 anos atrás. Disse que ele ficaria muito feliz em revê-lo. Finalmente, soltei a palavra mágica: a entrevista é pro Fausto Canova.

O nome do Fausto abriu as portas. O Laurindo aceitou de imediato. Disse que seria um prazer, porque não tinha falado que era o Fausto, mas que tinha uma condição: não iria à Rádio Cultura. Era cedo demais... A entrevista deveria ser feita no hotel. Tudo resolvido?

Claro que não. Uma coisa foi convencer a Laurindo a dar a entrevista. A outra era convencer o Fausto da condição. Parece simples. Pra você ter uma ideia, produzi o Estúdio 1200 durante 12 anos. De segunda a sexta-feira, ali, duas horas no ar. Se você fizer a conta, chegará a um total de três mil programas. Sabe você, nesse período, quantas vezes o Fausto Canova fez uma entrevista fora da Rádio?

Peguei o telefone, liguei pro Fausto, e expliquei a situação. E fiquei ouvindo: “Nããão...”. “A que horaaaaas!?”. “Quarta-feiraaaaa”. (Silêncio) Mais um pouco de silêncio... Na quarta-feira, às duas da tarde do dia 16 de setembro de 1987, estávamos no 150 Night Club para entrevistar um dos maiores nomes do violão brasileiro: Laurindo de Almeida.

Ao ouvir esta entrevista, depois de 23 anos, lembrei-me da gravação. Foi no início da tarde de um dia nublado, no 150 Night Club. Pouca luz, cadeiras levantadas sobre as mesas e muita cordialidade. Laurindo de Almeida chegou sorridente, animado ao lado de sua esposa, a cantora norte-americana Deltra Eamon Almeida, e falando com muito sotaque. Fausto Canova foi um ótimo anfitrião. Mostrou toda a sua naturalidade e descontração no papo que manteve com o violonista.

Deixei uma pergunta no ar: quantas vezes o Fausto Canova fez uma entrevista para a Rádio Cultura fora dos estúdios da emissora? Uma. Na tarde do dia 16 de setembro de 1987. 
 


O que você vai saber ouvindo a entrevista

- Em que emissora de rádio Laurindo de Almeidacomeçou a carreira;
- Quantos anos ficou sem tocar em São Paulo;
- O número surpreendente de discos gravados por Laurindo de Almeida nos Estados Unidos;
- O número de Grammys que ele ganhou, além dos que ele concorreu;
- O número de Oscar;
- Como foi seu início na orquestra de Stan Kenton;
- Sua outra especialidade.


Números com Laurindo de Almeida


1. Carmen Miranda, acompanhada dos violões de Laurindo de Almeida e Garoto, “Mulato anti-metropolitana” (Laurindo de Almeida), 1939;  

2. Laurindo de Almeida, “Lament in tremulo form” (Laurindo de Almeida), 1970;
3. Laurindo de Almeida, “Fellings” (Morris Albert - Arranjo de Laurindo de Almeida), 1977;
4. Laurindo de Almeida e Charlie BIRD, “Carioca” (Ernesto Nazareth), 1981.

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