Rainha do choro

Os programas A Voz Popular e A Era do Rádio destacam a importância e influência de Ademilde Fonseca na música brasileira.

Eduardo Weber 28/03/12 22:13 - Atualizado em 28/03/12 22:13

Em 1991, Ademilde Fonseca participou do Bem Brasil. (Flávio Bacellar / CEDOC FPA)

A música brasileira é rica em histórias.

O choro “Tico-tico no fubá”, composto por Zequinha de Abreu em 1917, só foi gravado em 1931. Nesse mesmo ano, Eurico Barreiros, dentista amigo do compositor, escreveu uma letra para ser cantada por sua filha.

Onze anos depois, uma jovem nascida em Macaíba, Rio Grande do Norte, em 04 de março de 1921, chegou ao Rio de Janeiro. Essa jovem era Ademilde Fonseca que, sabe-se lá como, conhecia decor a letra de “Tico-tico no fubá”, fato que muita gente boa da época não conhecia, entre elas o músico Benedito Lacerda.

Benedito logo propôs que Ademilde fizesse a gravação de “Tico-tico no fubá” em seu primeiro 78 rpm.  O ano? 1942.
 


Eu não faço parte da história da música brasileira. Mas “Tico-tico no fubá” faz parte da minha.

Estamos em 1960. Não havia completado três anos. Não havia TV em minha casa, mas o rádio ficava ligado em tempo integral. Para mim, era um ruído a mais que eu nem notava. Ao contrário de minhas tias e de minha avó, só ficava à frente do aparelho quando o rádio tocava esse choro de Zequinha de Abreu na voz de Ademilde Fonseca.

A cantora acabara de regravar o seu primeiro sucesso e talvez, por isso mesmo, a gravação fizesse parte dos lançamentos programados pelos disk-jockeys de então. Não fazia ideia do nome de quem cantava e não imaginava o significado de compositor. Na simplicidade de criança, adorava aquela música que tomava conta da sala, animada, rápida, com título e letra divertidos, de um passarinho papando o fubá alheio.
 
Ademilde Fonseca foi a genuína representante vocal do chorinho. Talento nato que faz jus ao título de Rainha do Choro e da homenagem que João Bosco e Aldir Blanc fizeram ao compor um choro para a sua intepretação, cuja letra reúne títulos dos mais importantes chorinhos de nossa história musical. Um choro que só poderia se chamar “Títulos de nobreza – Ademilde no choro”.
 


Essa rainha, que faleceu semanas depois de completar 91 anos, em 28 de março de 2012, deixou um trono sem herdeiros.

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[ ] Extras

- Em 2009, o programa A Voz Popular destacou a interpreção e o estilo único de cantar de  Ademilde Fonseca. Para Luiz Antônio Giron, Ademilde Fonseca "fez escola sem ter elaborado uma metodologia ou dado aulas de canto. Entre seus discípulos estão Baby Consuelo, mais tarde Baby do Brasil, Edson Cordeiro e tantas outras que encaram a voz como um instrumento virtuosístico." 
 

 
- A serie A Era do Rádio, apresentada por Carmélia Alves, homenageou os grandes ídolos da época de ouro da música brasileira, entre eles Ademilde Fonseca. Carmélia Alves apresenta: "mito a gente só tem de cem anos e essa mulher é um mito da música popular brasileira. Abraçou a expressão maior do samba que é o chorinho".
 

 

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