Céu, mar e vasto mundo

“O mundo é grande” – disse o poeta de Itabira. Mas o coração da também mineira Ceumar é maior ainda. No inverno de 2009, a cantora de Itanhandu trocou São Paulo por Amsterdam.

“O mundo é grande” – disse o poeta de Itabira. Mas o coração da também mineira Ceumar é maior ainda. No inverno de 2009, a cantora de Itanhandu trocou São Paulo por Amsterdam.

Ceumar já foi anunciada como “um dos segredos mais bem guardados da MPB”. É o grande exemplo de uma carreira construída pelas próprias mãos. O que só se concretiza quando se tem muito talento. Conheci Ceumar por volta de 1999. Ela lapidava faixa a faixa seu aclamado Dindinha, que ouvi pela primeira vez tocando em alto e bom som nas caixas acústicas da pracinha de Taubaté, interior de São Paulo. Naquela noite ficou claro que sua afinação e personalidade vocal viriam pra ficar.

Depois de revelar seu domínio de cena (no palco surpreende tanto quando se acompanhando ao violão quando com uma grande banda) e sua verve de compositora (seu quarto álbum é totalmente autoral), a cantora prepara do lado de lá do oceano seu quinto trabalho: Ceumar in quartet.

Na capital da Holanda formou grupo com Mike del Ferro, piano, Olaf Keus, bateria, e Frans van der Hoeven, baixo. Já haviam tocado juntos há três anos, no projeto “Plataforma Brasil Holanda”, no SESC Ipiranga, e depois numa turnê pela Holanda e Bélgica. “Nossa conexão foi fácil, amorosa, aberta. Estamos sempre encontrando espaço pra tocar juntos”, diz a cantora.

Acompanhe a entrevista feita via email/facebook:

Julio - Por que você foi parar na Holanda?
Ceumar - Eu conheci um "holandeus" em 2006, quando vim pela primeira vez fazer shows. De lá pra cá ficamos no bate-volta entre Sampa/Amsterdam e a opção mais interessante foi eu me mudar pra cá, já que temos até estúdio em casa (onde mixamos o CD Meu nome) e imagino que possamos produzir mais. E porque sou curiosa, curti a ideia de trazer minha música pra cá, apesar de nunca ter planejado isso. Apenas vou seguindo o fluxo da vida e o que ela apresenta a mim.

Você está inserida no mundo musical de Amsterdam? Faz shows? Participa de programas de rádio e TV?
Já conheço algumas rádios daqui (Radio 6, Rádio Pulsa Brasil) e no interior, a Radio 227, em Hellouw, onde pude tocar ao vivo, conversar e divulgar meus discos. Na TV fiz um programa musical muito bacana, no ar aos domingos de manhã, o Vrije Geluiden, onde toquei com o trio de jazz. Já tocamos em teatros de Amsterdam e do interior. Agora vamos começar fazendo os festivais, como o Festival Mundial, em Tilburg, no mês de junho, quando devemos lançar o CD. Adoro a experiência de tocar com estes músicos com bagagens diferentes da minha, é uma aventura musical.

Está curtindo a experiência? Produtiva? E a paisagem? O frio influi?
Cheguei no inverno, que está sendo longo e cheio de neve. Estou curtindo, aprendendo a língua, vivendo o dia-a-dia da cidade sem ser turista. É enriquecedor e, às vezes, solitário. Ser estrangeira é a novidade – são vários sentimentos, dúvidas, críticas, sabores e tristezas, tudo misturado. Espero fazer música desta fase em que estou vivendo.

E o novo CD?
É baseado no repertório que fomos aprimorando nestes três anos, basicamente novos arranjos para músicas como "Dindinha", "Jabuticaba madura", "Dança", "Gira de meninos" e uma música inédita de Zeca Baleiro, "Iá Ia", que eu canto há muitos anos.
 
Já tem uma cara?
Acho que tem uma pegada de jazz com pitadas de... Ceumar! (risos) É um CD dinâmico, rítmico e mostra novas cores para cada canção que eu já tinha gravado.


Ouça em primeira mão “Oração do anjo”, de Mathilda Kóvak e Ceumar, faixa demo do álbum Ceumar in quartet já registrada anteriormente no álbum Meu nome, de 2009. Basta clicar no player ao lado e à esquerda.


Veja também: Ceumar en het Mike del Ferro Trio, Aandacht voor Henk Badings, Amsterdam Sinfonietta.