É Carnaval: não abuse dos sonhos; abuse dos sonhos

Em plena festa da carne, até os mais reservados foliões têm a chance de transgredir. Veja a 'Marchinha do Facebook', de Lubinho Bico Fino e Telônios da Garoa, e 'Axé da Sé', de Ligiana e Dani Turcheto

Julio de Paula 18/02/12 11:00 - Atualizado em 28/02/14 17:59

Público e privado se confundem no entrudo carioca em aquarela do inglês Augustus Earle (c. 1822) (Reprodução)

Sonhos, iaiá, está sonhos
Feitos por mão de sinhá
Vem comprá à sua negra
Pra sinhá não se zangá

Com suas mãos delicadas
Bateu ovos e farinha
Compre, ioiô, esses sonhos
Foi feitos por sinhazinha

É de iaiá, é de ioiô 
Quem qué sonhá com seu amô!


Mello Morais Filho ao descrever o entrudo na segunda metade do século 19 fala dos caprichos das iaiás ao preparar os sonhos (quitandas que conhecemos das padarias contemporâneas de São Paulo), característicos daqueles festejos originários da península (vindos da antiguidade) e que se preservaram no Brasil até quase a virada dos 1900. Do entrudo vem muito do nosso Carnaval de hoje. Especialmente o espírito do folião.

Carnaval não existe no bloco do eu sozinho. Faz-se preciso vivenciar com o outro e ser o que se deseja ser. Então, o ciberespaço nasceu para o reinado de Momo: o indivíduo pode ser múltiplo em todas as suas máscaras (tendo a opção de até ser ele mesmo) e está em rede, inter-agindo.

Repetindo o velho entrudo, no cibercarnaval, discussões acerca do espaço público e privado caem por terra. Em plena festa da carne, êxtase da coletividade brasileira, até os mais reservados foliões têm a chance de transgredir. Mesmo que seja no sossego do seu computador pessoal.

Aqui, relato duas marchinhas carnavalescas de hoje. Música pra se compartilhar em rede. Em sua originalidade, elas endossam a tese: no Carnaval, não abuse dos sonhos; abuse dos sonhos.



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