Feiticeiro das palavras: Roquette-Pinto e o rádio

Especial produzido pela Rádio Cultura em 2003 por ocasião dos 80 anos da primeira emissora de rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro - PRA2

Julio de Paula 25/09/10 09:52 - Atualizado em 25/09/14 13:02

O carioca Edgard Roquette-Pinto (1884-1954), o pai da radiodifusão no Brasil. (Reprodução / Revista Rádio)

“Todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil [...] receberão, livremente, o conforto moral da ciência e da arte; [...] a paz será realidade definitiva entre as nações. [...] Tudo isso há de ser um milagre das ondas misteriosas que transportam no espaço, silenciosamente as harmonias.” (Roquette-Pinto)

Do pioneirismo e da investigação: Antropologia-radiofonia 

“Se em meio à conversa no seu apartamento atulhado de coisas díspares, socasse do bolso uma pomba, e a fizesse descrever no ar um bailado de Stravinsky, não nos espantaríamos; tinha poder e graça para tanto.” (Carlos Drummond de Andrade)

Da Cultura e da metalinguagem: Rádio sobre rádio e Rádio-doc

No ano 2003, fomos encarregados de produzir um programa especial por ocasião dos 80 anos da primeira emissora de rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro – PRA2. De imediato nos lembramos de Vera Roquette-Pinto, documentarista, que sempre havia alimentado (embora timidamente) a ideia de rememorar seu avô, Edgard Roquette-Pinto, o “patrono”. Nos lembramos de Vera nos anos 1990 dizendo: “Não é porque é meu avô, mas o rádio poderia fazer algo sobre ele”.

Estava aberta a oportunidade. Lançamos o convite a Vera, que nos abriu os arquivos da família – algumas cartas, escritos, periódicos, e uma primeira edição de Rondônia, entre outras curiosidades históricas. A memória da neta mais uma pesquisa coerente e coesa publicada por Ruy Castro foram o ponto de partida. A iluminação veio de dois artigos de Carlos Drummond de Andrade: “Imagens do Rádio” e “Feiticeiro das palavras”.

“O guia dos sãos” – assim Roquêtte (ele gostava de ser chamado assim) se referia ao meio rádio. À luz do professor, de certa forma nos guiamos ainda hoje. E buscando a interatividade junto ao ouvinte, nos valemos de fontes primárias para a realização de radiodocumentários.


À esquerda, a primeira publicação criada pela Rádio Sociedade, Radio - Revista de Divulgação Científica Geral (1923-1926); em seguida, a revista trimestral Electron (1926)

Da busca pelos documentos sonoros

A voz do antropólogo registrada num poema, sua atuação como professor (ou como ele mesmo), além de uma canção (sim, ele também era compositor) foram alguns dos documentos compilados da cinematografia de Humberto Mauro.

Os célebres fonogramas registrados em cilindros de cera por Roquette-Pinto na Serra Norte em 1912 (provavelmente inéditos no rádio) foram cedidos pelo Museu Nacional. Documentos que nos levaram a outra figura - Heitor Villa-Lobos, amigo de Roquette, que havia tomado as pesquisas do antropólogo como fonte de inspiração musical. Ligações feitas, compilamos do catálogo do autor das “Bachianas” todas as obras visivelmente conectadas ao professor.

Essas e outras citações, alguma recriação histórica, além do depoimento de Vera, ajudaram a compor um panorama do “professor de imaginação” – um perfil do patrono do rádio, por ocasião da primeira emissora.

Credo, 1935

“Creio que o homem e a natureza são exclusivamente governados por leis, imutáveis, superiores a quaisquer vontades;
Creio que a ciência, integrando o homem no universo, criou em sua mentalidade, ao mesmo tempo, uma infinita modéstia e uma sublime simpatia para com todos os seres.” (Roquette-Pinto)
 

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