Tom Jobim: Matita Perê

Disco que pouco a pouco foi compreendido, entendido e admirado, é um marco na carreira de Tom Jobim

Teca Lima 25/07/13 15:44 - Atualizado em 26/08/15 11:52

Capa de Matita Perê, de Tom Jobim (Reprodução)

Gravado em Nova York em janeiro de 1973, Matita Perê é para muitos um divisor de águas na carreira de Tom Jobim. Ele estava com 46 anos e já era um nome consagrado no Brasil e no exterior, após o grande sucesso da Bossa Nova e o reconhecimento de artistas do porte de Frank Sinatra.

Os temas escolhidos por Jobim em suas composições passam da leveza e doçura, comuns nas canções da bossa nova com suas praias, barquinhos e garotas, para a natureza e lendas de um Brasil profundo, sertanejo. Ele compõe a partir de suas observações e da leitura de autores como Guimarães Rosa e dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Mário Palmério.

Para o crítico musical Zuza Homem de Mello, "Matita Perê é um disco que pouco a pouco foi sendo compreendido, entendido e principalmente admirado. É um marco na carreira de Tom Jobim".

A faixa de abertura traz aquele que se tornaria um dos maiores clássicos do compositor, “Águas de março”, cujo título foi retirado de poema de Olavo Bilac. Já a faixa-título, uma suíte, cita o folclore e nasce de suas leituras, em especial do conto “Duelo” de Guimarães Rosa, que contou com a colaboração de Paulo César Pinheiro na letra.

Em depoimento ao RadarCultura, Paulo César Pinheiro falou sobre a parceria: “O Tom me procurou, porque eu tinha uma música no Festival da Canção chamada “Sagarana”, parceria com o João de Aquino. Tom ouviu, ficou impressionado e me ligou dizendo que tinha ideias semelhantes àquelas".

Matita Perê marca o início da temática ecológica na obra de Tom Jobim, que seguiria com força em discos como Urubu (1975), Terra Brasilis (1980) e Passarim (1987).

Ao mesmo tempo, evidencia-se o Jobim sinfônico, claramente influenciado por Villa Lobos, em faixas como “Crônica da casa assassinada”, outra suíte com quase 10 minutos de duração, feita para a trilha do filme de Paulo César Sarraceni.

Para os arranjos, Jobim contou com Dori Caymmi. Algumas gravações chegaram a ser feitas no Rio de Janeiro, mas Tom não ficou satisfeito com a qualidade técnica e regravou nos EUA, mantendo, porém, vários detalhes desses arranjos de Dori. A orquestração e regência ficaram a cargo do maestro alemão Claus Ogerman.

Repertório:

Lado A
1. 
Águas de Março (Tom Jobim)
2. Ana Luiza (Tom Jobim)
3. Matita Perê (Tom Jobim / Paulo César Pinheiro)
4. Tempo do Mar (Tom Jobim)

Lado B
1. The Mantiquera Range (Paulo Jobim / Ronaldo Bastos)
2. Crônica da Casa Assassinada
     a - Trem para Cordisburgo (Tom Jobim)
     b - Chora Coração (Tom Jobim e Vincius de Moraes)
     c - Jardim Abandonado (Tom Jobim)
     d - Milagre e Palhaços (Tom Jobim)
3. Um Rancho nas Nuvas (A Ranch In The Clouds) (Tom Jobim)
4. Nuvens Douradas (Tom Jobim)


Ficha técnica:

Matita Perê
Gravadora: Philips
Arranjos e regência: Claus Ogerman
Ritmo e percussão: João Palma e Airto Moreira
Piano, violão e voz: Antonio Carlos Jobim
Spalla: Harry Lookousky
Direção de produção: Eduardo Athayde
Engenheiro de som: Frank Laico

 

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