As intocáveis

Interpretações importantes, bonitas e de bom gosto, mas em razão de sua duração, são esquecidas e abandonadas pelo rádio.

Eduardo Weber 01/05/12 09:00 - Atualizado em 01/05/12 09:00

Caetano Veloso durante a gravação do programa Ensaio, da TV Cultura. (FPA)

No dicionário, intocável significa “em que não se pode tocar, intangível, que ou aquele que é inatacável”. No rádio, intocável é aquela música que não pode ser tocada, ou melhor, programada, veiculada.

Razão há de sobra, mas no nosso caso o motivo é o tempo. São interpretações importantes, bonitas e de bom gosto, mas em razão de sua duração, são esquecidas, são as intocáveis. Afinal, como justificar para a direção a seleção de apenas seis números no espaço de uma hora, quando o normal são 16?

Esse é o motivo da playlist com o título de As intocáveis. E, creia, você terá boas surpresas. Vamos a elas.

A seleção começa com Baden Powell. O número está no álbum duplo produzido por Sérgio Cabral, gravado ao vivo em São Paulo nos dias 18 e 19 de agosto de 1979, no Teatro Procópio Ferreira. Um lindo registro de “Berimbau” (Baden Powell e Vinicius de Moraes). O violonista incluiu versos de domínio público nesta gravação e dá um show de técnica ao lado de Lilian Carmona (bateria), Saulo Bezerra de Melo (contrabaixo) e Don Bira (percussão). São 13 minutos de arrepiar.
 


“Triste Bahia” (Caetano Veloso sobre versos de Gregório de Matos) é uma daquelas faixas do LP Transa que você só ouve em casa. O disco, gravado em Londres no início dos anos 70, nos lembra do tempo em que se era possível gravar músicas com mais de 9 minutos.
 
Outra intocável no rádio é a versão de “Fé cega, faca amolada” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) que está no disco Dança das cabeças, de Egberto Gismonti, uma obra-prima gravada na Alemanha em 1977. Egberto divide a faixa com o percussionista Naná Vasconcelos. Outros nove minutos de tirar o fôlego.

Outra faixa que não tocou no rádio é a vibrante combinação de Gonzaguinha para duas obras de sua safra: “Festa” e “Moleque”. O registro é de 1977, do LP Moleque Gonzaguinha. São mais de oito minutos.

Dois anos depois, Miúcha lançou um LP com Tom Jobim. Nele está a única gravação que conheço de “Dinheiro em penca” (Tom Jobim e Cacaso). Uma divertida letra quilométrica no estilo “matuto da roça”, com a participação de Chico Buarque. Tempo total: quase 10!

Em termos de canção, o mestre em gravar faixas longas é João Gilberto. Ele é imbatível. Basta ouvir essa versão de “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso) registrada ao vivo no Festival de Jazz de Montreux no ano de 1986. Outros nove!

E para fechar a playlist, a conhecidíssima “Taj Mahal” (Jorge Ben) que está no disco Gil Jorge, de 1975. Um disco só de violões, vocais e percussão. São 14 minutos de festa para fechar esta playlist que, pelas minhas contas, já estourou o tempo.

 

 

O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura, TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.

Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.