Carnaval desengano

A Quarta-feira de Cinzas simboliza o fim da folia e, muitas vezes, de seus romances. Para cantar esse sentimento, Paulinho da Viola, Maria Rita, Chico Buarque e outros

Lia Machado Alvim 17/02/12 17:00 - Atualizado em 26/02/14 21:07

TODO CARNAVAL TEM SEU FIM - Durante cinco dias, o mundo ganha outro sentido para os foliões, como os do Clube Regatas Tietê, em 1922. (CEDOC FPA)

"Carnaval: período anual de festas profanas, originadas na Antiguidade e recuperadas pelo cristianismo, e que começava no Dia de Reis e acabava na Quarta-feira de Cinzas, às vésperas da Quaresma... Festejos populares provenientes de ritos e costumes pagãos..."

(Dicionário Houaiss da Lingua Portuguesa)


Carnaval, termo usado como sinônimo de folia, de alegria, de dias ou momentos felizes, aliados ou não à subversão de costumes, tem como característica ser um período de curta duração, afinal, tudo se acaba na quarta-feira...

Associar Carnaval e romance, quase sempre romances passageiros, remonta à antiguidade, pois o festejo popular é um costume pagão com liberdade de expressão e de sentidos... Que se acaba na quarta-feira.

Na música brasileira, o termo carnaval é usado com vários sentidos poéticos, ora como convite ao namoro, ora associado à tristeza do fim de um relacionamento, ora à saudade de um amor passado, mas lembrando que tudo se acaba na quarta-feira.

Nesta playlist, um passeio pela poesia carnavalizada do compositor brasileiro, a poesia do Carnaval desengano.

A Orquestra Contemporânea de Olinda convida ao namoro em "Durante o Carnaval", do vocalista e compositor Tiné: "... Menina fique comigo, até quarta-feira chegar, eu quero desabafar... Me jogar nos braços teus durante o Carnaval..."; Ronaldo Bastos faz o mesmo com a melodia de Celso Fonseca em "Meu Carnaval": "... Vem se acabar na folia... Com alegria vem brincar o Carnaval, me beija na boca... E segue o samba até o sol raiar"; Marcelo Camelo, numa lista em que relata ciclos comuns da vida, diz em "Todo Carnaval tem seu fim": "... Todo o samba tem um refrão pra levantar o bloco... Todo Carnaval tem seu fim... Deixa eu brincar de ser feliz"; Belô Velloso canta os versos de Cris Braun (música de Alvin L) associado à desilusão amorosa em "Menos Carnaval".

A chegada do Carnaval é esperança de um novo amor e fim da tristeza para Gilberto Gil, que interpreta com Daniela Mercury "Amor de Carnaval": "... Eu não quero mais chorar por causa de um amor qualquer, minha dor tem que acabar no Carnaval, se Deus quiser".

A letra de Chico Buarque na voz de Paulinho da Viola diz "... Deixei a dor em casa me esperando, e brinquei e gritei e fui vestido de rei, quarta-feira sempre desce o pano..." em "Sonho de um Carnaval"; o compositor Edu Krieger fala do amor que começou no Carnaval e vai amparar a tristeza quando os tamborins emudecerem em "Novo amor": "queira ou não queira terminou o Carnaval... Mas não faz mal, não é o fim da batucada e a madrugada vem trazer meu novo amor...".

O artista plástico Nuno Ramos exercita sua veia poética dizendo que o Carnaval chega a fazer mal para quem é triste em "Pra que cantar", gravada por Gal Costa: "... Me deixe fora dessa euforia de três dias... É Carnaval..."; "Máscara negra", de Zé Keti e Pereira Matos, festeja o reencontro no baile do Carnaval na voz da cantora que o tornou um clássico, Dalva de Oliveira; para o jornalista e compositor Antonio Maria, um dia feliz é um dia de Carnaval e pode não durar muito como acontece com a própria folia anual em "Manhã de Carnaval", música de Luiz Bonfá na voz de Paula Morelenbaum; mas se a tristeza é grande, resta fingir que a batucada continua e seguir sambando mesmo depois de raiar a quarta-feira de cinzas como escreveu Chico Buarque em "Ela desatinou".

Bem-vindos a encarar o ano que agora começa... E guardar as esperanças para um novo Carnaval. Chegamos à Quarta-feira de Cinzas!

 

 

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