O escolhido da guitarra

Lanny Gordin, o gênio das cordas que, a partir do fim dos anos 1960, ajudou transformar discos de Jards Macalé e Gal Costa em obras-primas

Felipe Missali 24/08/11 20:00 - Atualizado em 07/03/14 21:02

O guitarrista Lanny Gordin, tatuador de clássicos como \"Mal secreto\" e \"De cara\". (Divulgação)

Dois transistores, quatro resistores e três capacitores foram necessários para colorir a guitarra dos anos 1960 e 1970.

O pedal de fuzz, como a própria fonética sugere, é usado para distorcer o sinal da guitarra antes de chegar ao amplificador, criando um som parecido com um zumbido de abelha.

Lanny Gordin foi responsável por incendiar o "cacho de abelha" na Tropicália. Nascido em 1951 em Xangai, na China, filho de um pianista russo com uma polonesa, Alexander Gordin era fã de Hendrix, Cream e Beatles, nomes que souberam usar tão bem esse efeito. Mas Lanny não fez feio: timbrou os arranjos deixando o grupo que acompanhou Gal em A todo vapor tão alto quanto o Big Brother & The Holding Co., de Janis Joplin. "Mal secreto", faixa desse álbum, inicia com uma alusão a Jeff Beck e a seu grande riff presente em "Rice pudding", do disco Beck-Ola, de 1969.

O maestro Rogério Duprat fez de Lanny o escolhido para suas gravações de arranjos e experimentações de estúdio. Nessa época, o guitarrista era disputado por astros da MPB como Elis, Tim, Erasmo e Gal.

Além do rock, o jazz também interessa a Lanny. O grupo Brazilian Octopus, do qual Gordin fez parte, flerta com a então nascente linguagem Brazilian Jazz. Integravam o Octopus Hermeto Pascoal e Olmir Stocker, que, anos depois, tornou-se guitarrista do Grupo Medusa. Tanto Hermeto quanto Stocker circulavam pela boate do pai de Lanny, a lendária Stardust, localizada na praça Roosevelt, centro de São Paulo.

Esse gosto pelo jazz foi herdado da discoteca do pai. Lanny possuía discos dos guitarristas Wes Montgomery e Barney Kessel, além de ser ouvinte de Miles Davis, com a vantagem de receber notícias quentes via Hermeto Pascoal, que, nessa época, construía identidade musical e espiritual com o jazzista americano.

Lanny ainda vai para um caminho cheio de groove ao acompanhar Jards Macalé em seu disco de estreia, de 1972. Ali, divide o violão com Macalé e se mostra um surpreendente baixista, dando suingue ao trio que conta com Tuti Moreno na bateria.

Após quase 30 anos de ostracismo e uma rápida passagem pela Aguilar e Banda Performática nos anos 1980, Lanny finalmente despertou de um período turbulento de medicações, sanatórios e tratamentos pesados contra a esquizofrenia. Inicia algumas parcerias e realiza novas gravações. Destaque para o disco Lanny duos (2007), que traz  um convidado por faixa. Com uma biografia digna de qualquer rockstar, Lanny avisa: "ainda pretendo gravar pelo menos uns dez ou quinze CDs".

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