O fino de Elis

O avesso da vitoriosa série de programas televisivos comandada pela cantora. Em destaque, o canto cool eternizado em discos lançados entre 1972 e 1974

Vilmar Bittencourt 03/12/12 19:00 - Atualizado em 14/07/14 23:30

A cantora gaúcha Elis Regina participa do programa MPB Especial, dirigido por Fernando Faro, em 1973. Ao lado, a capa do LP Elis, de 1972. (Armando Borges / CEDOC FPA)

Não, não se trata de O fino da bossa. A presente lista focaliza o avesso da vitoriosa série de programas televisivos comandada por Elis Regina em meados da década de 1960. A estética vocal praticada por Elis naquela fase estava longe da definição do estilo interpretativo bossanovista dada por Tom Jobim, que considerava o cantar cool o ideal moderno de emissão para se comunicar melodia, harmonia e letra das canções do movimento. Sim, João Gilberto era o ideal entre os ideais. A sequência musical aqui apresentada mostra onde Elis é mais João.

Adepta, fã e seguidora de Ângela Maria, Elis Regina levou tempo para demonstrar que as lições da bossa nova faziam parte de sua cartilha. Seu disco de 1972, o Elis, é o primeiro que traz um conjunto substancial de interpretações intimistas, sem virtuosismo, baseadas no canto próximo da fala, em tom coloquial, que confirmavam sua fama de "músico" entre os instrumentistas que a acompanhavam. Neste LP, Elis dava início à parceria com César Camargo Mariano. Ao lado da cantora, e para ela, o pianista e arranjador montou um combo poderoso do qual faziam parte o guitarrista Hélio Delmiro, o contrabaixista Luizão Maia, o baterista Paulinho Braga e o percussionista Chico Batera.

O mítico quinteto fez história consolidando-se no álbum de 1973. No Elis daquele ano, o arranjador abriu mão da orquestra de cordas, atitude que colaborou para evidenciar a sintonia fina entre cantora e conjunto. A ausência de violinos, violas e violoncelos fortaleceu uma forma original para acompanhamento, sobretudo dos sambas, que tornou-se marca registrada de Elis e chegou a influenciar Djavan.

Classificada por parte da crítica como fria e técnica, a refinada fase durou dois anos, até 1974, culminando com o cultuado Elis & Tom. Porém, exemplos de canto contido despontam em trabalhos anteriores como o Elis Especial, de 1968. No mesmo disco em que estão interpretações exuberantes para temas de Edu Lobo, Baden Powell e Gilberto Gil, há duas faixas em que Elis Regina doma a voz em favor de interpretação delicada e precisa em graves e agudos: "Bom tempo", samba que o autor Chico Buarque gravou de forma amaxixada, e "Da cor do pecado", samba-choro de 1939 composto por Bororó.

Repertório:

1. Da cor do pecado (Bororó), 1968
2. Águas de março (Tom Jobim), 1972
3. Folhas secas (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), 1973
4. Alô, alô taí Carmen Miranda (Wilson Diabo, Heitor Rocha e Maneco), 1972
5. Chovendo na roseira (Tom Jobim), 1974
6. Vida de bailarina (Chocolate e Américo Seixas), 1972
7. Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves), 1974
8. Doente morena (Duda Machado e Gilberto Gil), 1973
9. Bom tempo (Chico Buarque), 1968
10. Comadre (João Bosco e Aldir Blanc), 1973
11. Samba da benção (Baden Powell e Vinicius de Moraes), 1968
12. É com esse que eu vou (Pedro Caetano), 1973

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