Se segura malandro

O jeitinho, o carisma e o 'sambarilove' deste personagem tão bem retratado pela música popular. Com Paulinho da Viola, Moreira da Silva e Bezerra da Silva.

Alceu Maynard 18/09/12 11:40 - Atualizado em 18/09/12 11:40

Zé Pilintra, símbolo da malandragem, retratado por Eduardo Closs. (Eduardo Closs / Reprodução)

“Malandro é malandro e mané é mané”, proclamava Bezerra da Silva.

Esta seleção musical é um tributo ao humor, à esperteza e à engenhosidade do sujeito malandro, personagem tão bem retratado por alguns compositores e intérpretes da música popular.
 


O estereótipo do típico malandro brasileiro surgiu na primeira metade do século XX. Carregado de um certo romantismo, foi imortalizado pelas letras de samba. Esse malandro é carioca e habita os guetos; veste chapéu Panamá e sapatos bicolores. É boêmio, vive de pequenos golpes, não acredita no trabalho, mas sempre dá um jeitinho pra sobreviver...
 


O caminhar do malandro é leve, gingado e solto. A conversa é esperta, inteligente, agradável...
O malandro sabe convencer rapidamente, e assim segue sua rotina, fazendo jogo, se dando bem...


Chico Brito fez do baralho seu melhor esporte
É valente no morro
Dizem que fuma uma erva do norte
Quando menino teve na escola
Era aplicado, tinha religião
Quando jogava bola era escolhido para capitão


(Trecho de "Chico Brito", de Wilson Batista e Afonso Teixeira)


A exemplo de Chico Brito, o malandro tentar associar o útil ao agradável. Diversão muitas vezes vira o seu ganha pão e, entre um carteado e outro, não deixa de apostar no seu time do coração. Afinal, malandro que é malandro quando joga é capitão, e quando está fora de um campo de “pelada”, é o maestro das quatro linhas, sabe mais que qualquer técnico de futebol.


Desculpe seu Zagalo
Mexe nesse time que ta muito fraco
Levaram uma flecha , esqueceram o arco
Botaram muito fogo e sopraram o furacão
Que nem saiu do chão


(Trecho de "Camisa 10", de Hélio Matheus e Luis Vagner)
 


O jeito malandro, por meio de diversas músicas, retrata a esperteza ou a personificação desta característica tão citada. Por isso, este tipo de malandro se permite a redenção. Muitos malandros acordam cedo, têm família, pagam contas e até mesmo deixam a cervejinha para o fim do dia, após o expediente (talvez)....

Chico Buarque em “Homenagem ao malandro” revela essa fotografia e expõe uma concorrência desleal ao “romântico” malandro:


Eu fui à Lapa e perdi a viagem
que aquela tal malandragem não existe mais
Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial
malandro candidato a malandro federal
malandro com retrato na coluna social
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal


Em entrevista ao RadarCultura, o sambista paulistano Germano Mathias escaneou esse malandro que Chico não encontrou na Lapa.
 


Definitivamente, a malandragem à moda antiga não está mais entre nós. João Bosco já citava a sua profissionalização. “Já não há mais lugar pra amador. Ri melhor, quem ri impune.” Mas não vou entrar nesses méritos, ou desméritos; prefiro o gingado, o carisma e a esperteza. Som na caixa, maestro!

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