Verde que te quero ver

Dez músicas soltam fogos para a história do Palmeiras. Com Dircinha Batista, Aracy de Almeida, Silvio Caldas, Wilson Simoninha, Branco Mello e Igor Cavalera.

Alceu Maynard 12/07/12 12:00 - Atualizado em 12/07/12 12:00

Lenda viva do Verdão, o goleiro Marcos, conhecido como ˜São Marcos˜, foi pentacampeão mundial com a seleção brasileira em 2002. Eliminou o Corinthians duas vezes consecutivas na Libertadores: em 1999, defendeu um pênalti de Vampeta; em 2000, de Marcelinho Carioca. (Reprodução)

Uma torcida que tem orgulho de sua história. Seja qual for sua idade, o torcedor palmeirense tem na “ponta da língua” as maiores glórias e conquistas do clube. Afinal, qual clube pode literalmente defender a seleção canarinho em uma partida internacional de futebol? Qual time, após a traumática partida entre Brasil e Uruguai na Copa do Mundo de 1950, consagra-se, no ano seguinte, como o primeiro campeão Mundial de Clubes da história do futebol?

Nesta seleção musical, destaque para algumas glórias, como estas, desde os tempos de Palestra Itália até a Sociedade Esportiva Palmeiras.
 


Em 1938, a cantora paulistana Dircinha Batista gravou seu primeiro sucesso. “Periquitinho verde” foi composta por Antônio Nássara e Sá Róris e embalou o Carnaval daquele ano. A música obteve grande aceitação popular e foi diversas vezes regravada, inclusive por Pixinguinha, quase 20 anos depois. Populares na década de 1930, os homens do realejo após tocarem alguma velha música, abriam a gaiola de onde saía um periquito que tirava sorte em um papel dobrado. O periquitinho verde tantas vezes repetido na música por Dircinha logo agradou a torcida palestrina que já havia adotado a ave como mascote em função do uniforme verde e pelo grande número desta espécie na região do estádio do Palestra. Nesta década, o Palestra havia conquistado o tricampeonato paulista (1932, 33 e 34), sob a estrela de Romeu, atacante que diziam ficar meses sem errar um passe se quer, e autor de quatro gols na maior goleada aplicada no rival Corinthians, 8 a 0 em 1933.

Ainda sobre o mascote do Verdão, os mineiros do Titulares do Ritmo, já na era Palmeiras, também fizeram sua homenagem ao clube em 1959 com a marcha “Periquito Real”.


Palmeiras, Palmeiras
equipe orgulho da torcida brasileira
levanta o teu topete
pega a bola e pinta o sete
meu Periquito Real



Em compacto duplo daquele ano, a faixa era acompanhada pela narração da memorável partida entre Palmeiras e Ferroviária. Após quebrar a invencibilidade do time de Araraquara, o time liderado por Julinho Botelho, Djalma Santos e Chinesinho ganhou o Supercampeonato Paulista sobre o Santos. Nesta edição, Waldemar Carabina eternizou-se como um grande marcador de Pelé. O título quebrava um jejum de oito anos sem conquistas e dava início aos anos de glória do Verdão.
 


Com toque de bola refinado e alta eficiência nas finalizações, o Palmeiras foi comparado, durante anos, a uma “academia de futebol”. Consagrava-se neste período um dos maiores ídolos do clube e grande nome do futebol brasileiro: Ademir da Guia. Para muitos, o “Divino” foi o maior nome da história do clube. Em 16 anos defendendo o Alviverde foram muitos títulos conquistados ao longo de 901 jogos e 153 gols marcados. Foi pentacampeão brasileiro (Roberto Gomes Pedrosa 1967-69, Taça Brasil 1967, Brasileirão 1972-73) e paulista (1963, 66, 72, 74, 76). Nestes anos, o Palmeiras era o único time brasileiro a fazer páreo com o Santos de Pelé. 


Eternizado na memória dos torcedores e no busto de bronze nos jardins do estádio Palestra Itália, Ademir da Guia já foi tema de livro, filme e, é claro, música. O cantor palmeirense Moacyr Franco mostrou toda sua gratidão ao jogador e ao seu pai, o zagueiro Domingos da Guia, na música “O filho do Divino”. A faixa, gravada em 1977, pertence ao álbum Morrendo de amor, e é uma composição do ator, humorista, cantor e compositor Arnaud Rodrigues, falecido em fevereiro de 2009. Vinte anos depois de sua primeira homenagem fonográfica, Moacyr Franco demonstraria novamente seu carinho pelo Palestra com uma “O amor é verde”.
 

Pode-se dizer que o amor é verde e também amarelo, pois o Palmeiras já foi Brasil! Em 1965, toda equipe, incluindo craques como Valdir de Moraes, Djalma Dias, Ademir da Guia, Djalma Santos, Dudu e Tupãzinho vestiram a camisa canarinho (CBD) e venceram a seleção do Uruguai por 3 a 0 na inauguração do estádio Magalhães Pinto, o Mineirão. O técnico argentino Filpo Nuñes foi o único estrangeiro a dirigir a seleção tupiniquim. Ver a equipe palmeirista defendendo as cores do Brasil deixou a torcida alviverde em êxtase, e orgulhou toda nação, afinal, fez bonito contra os hermanos uruguaios. Quinze anos antes, a seleção do técnico Juan López marcou a história do futebol brasileiro em seu episódio mais triste, o fracasso em pleno Maracanã na Copa de 1950 (Uruguai 2 X 1 Brasil). Mas, um alento veio no ano seguinte, e no mesmo palco. O Rio de Janeiro ainda era a capital do Brasil, quando o Palmeiras de Jair da Rosa Pinto, Waldemar Fiúme, Liminha e Rodrigues Tatu lavou a alma de todos os medos e elevou uma equipe brasileira ao maior posto do futebol mundial.

Carioca, o cantor e compositor Silvio Caldas cantou a marchas do São Cristovão e do Vasco da Gama, ambas de Lamartine Babo, em 1950, quatro anos antes de se radicar em São Paulo. Uma infeliz curiosidade: neste ano o Palmeiras usou a camisa azul, alusão à camisa da seleção italiana, na final do Paulista. O conselho de uma mãe de santo ao então presidente do clube, Paschoal Giuliano, não deu certo e o time perdeu o título para o Corinthians. Anos depois, em 1976, Silvio Caldas compôs e gravou “Tarantela em verde e branco”, lançada em compacto duplo pela gravadora Continental. O autor da biografia Silvio Caldas – O seresteiro do Brasil, Carlos Marques, acredita que o Palmeiras tenha sido o segundo time do seresteiro; o América carioca teria sido o primeiro. Além de proprietário da famosa boate Chicote, Caldas foi dono de restaurante onde, supostamente, fez amizade com palmeirenses da região do Brás e Barra Funda. Sem registros de encomenda da tarantela, tudo leva a crer que além da cidade, o alviverde paulista também tenha conquistado um lugar no coração do cantor.
 

 
Vindo de uma família circense, o gaúcho Albano Pereira ficou conhecido como o palhaço Fuzarca. Um dos pioneiros da televisão brasileira, Fuzarca gravou "Periquito campeão" para celebrar a conquista do Campeonato Paulista daquele ano pelo Verdão. A faixa foi lançada em compacto simples pela Cock-Tail Discos e o palhaço-intérprete teve a companhia instrumental dos Titulares do Ritmo. 
 

 
Quem diria que até mesmo Noel Rosa (1910-1937), outro torcedor do América Futebol Clube, teria citado o Palmeiras, ou melhor, o Palestra, em uma de suas canções! “A melhor do planeta” foi composta em 1934, em parceria com Almirante, e sua primeira gravação foi de Aracy de Almeida em 1955.


Tu foste dançar par constante
Num baile de um clube da Liga Barbante
Tu abafaste a orquestra
Dizendo “Sou mestra!”
Pior pro Palestra!


João Máximo e Carlos Didier, autores de Noel Rosa – Uma biografia explicam que a expressão Liga Barbante se refere a agremiações que não pertenciam a liga oficial que congregava os grandes clubes cariocas. O barbante era usado para significar pobre, vagabundo. A origem do termo está nas cervejas de fabricação caseiras, vendidas em certa época no Rio de Janeiro que, em vez de chapinha, tinham uma rolha amarrada com barbante. O Palestra citado é o Palestra Itália de São Paulo, afirmam os autores. A versão também é confirmada pelos autores do site Noel Rosa Centenário. Na música, a citação pode se referir a “Palestra-Itália”, clubes de futebol formados por imigrantes e descendentes de italianos em várias cidades brasileiras. Em São Paulo e em Belo Horizonte estas agremiações originaram o Palmeiras e o Cruzeiro, respectivamente (em 1934, suposto ano da composição, Noel ainda não havia conhecido a capital mineira). As duas equipes “palestras” foram obrigadas a mudar o nome quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, em 1942. O governo federal proibiu qualquer entidade de usar nomes associados aos inimigos Itália, Alemanha e Japão. O Palestra Itália virou Palestra de São Paulo e, em seguida, Sociedade Esportiva Palmeiras. 
 


Composto em 1949, o hino da Sociedade Esportiva Palmeiras ganhou uma releitura com os músicos palmeirenses Wilson Simoninha, Branco Mello e Igor Cavalera. Conforme José Ezequiel, diretor de Acervo Historico do Palmeiras, existe um fato curioso na história desta composição. A letra é de Gennaro Rodrigues e a música de Antonio Sergi. O que poucos sabem é que Antonio Sergi e Gennaro Rodrigues são a mesma pessoa. Acontece que o Dr. Antonio Sergi não gostava de fazer letras e quando as fazia colocava pseudônimo. Dr. Antonio Sergi, o Totó, nasceu na Itália em 10 de junho de 1913, naturalizou-se brasileiro, médico cardiologista, formado pela Escola Paulista de Medicina. Foi também músico, regente, arranjador e professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, além de diretor-artístico da Rádio Cruzeiro do Sul e maestro da Orquestra Colúmbia.
 


Dudu, Vavá, Marcos, Leão, Tupãzinho, Leivinha, Evair, Luiz Pereira, Julinho, Djalma Santos, Edmundo, Oberdan, Djalma Dias, Rivaldo, Liminha e Ademir da Guia. Uma seleção de craques escalada pelo cantor e compositor Marcelo Quintanilha em “Quero te ver de verde”. Jogadores desde a Conquista do Mundial em 1951 entram em campo juntos com os do Palmeiras da Era Parmalat no imaginário da canção. No refrão, o criador repete os gestos do goleiro Marcos, um dos heróis na conquista da Taça Libertadores em 1999, e convoca a torcida a apoiar o Verdão. Força que vem da arquibancada, transmitida diretamente do coração e da alma alviverde. Torcida apaixonada que atravessa gerações carregando o orgulho por sua história: “Scoppia che la vittoria è nostra” (Explode que a vitória é nossa).  


REPERTÓRIO

1. Periquitinho verde (Antônio Nássara e Sá Róris), por Dircinha Batista
2. Periquito real (A. Perez), por Titulares do Ritmo
3. O filho do Divino (Arnaud Rodrigues), por Moacyr Franco
4. O amor é verde (Moacyr Franco), por Moacyr Franco
5. Tarantela em verde e branco (Silvio Caldas), por Silvio Caldas
6. A melhor do planeta (Noel Rosa e Almirante), por Aracy de Almeida
7. Hino Sociedade Esportiva Palmeiras (Gennaro Rodrigues), por Wilson Simoninha, Branco Mello e Igor Cavalera
8. Quero te ver de verde (Marcelo Quintanilha), por Marcelo Quintanilha
9. Seu Ferrera e o Parmera (Douglas Germano), por Douglas Germano
10. Eu sou Palmeiras, sim, senhor (MC Fandangos), por MC Fandangos 
 




AGRADECIMENTOS
Ao historiador Fernando Galuppo, ao Departamento de Comunicação; a José Ezequiel, conselheiro e pesquisador da história da Sociedade Esportiva Palmeiras; a Carlos Marques, autor de Silvio Caldas – O seresteiro do Brasil.; e a Alcibíades Albano Pereira (filho do Palhaço Fuzarca).

 
REFERÊNCIAS
[ ] Helena Jr., Alberto. Palmeiras: a eterna academia. 1996.
[ ] Prata. Mario. Palmeiras: um caso de amor. 2002.
[ ] Marques, Carlos. Silvio Caldas - O seresteiro do Brasil. 2008. 
[ ] Máximo, João & Didier, Carlos. Noel Rosa: uma biografia. 1990.

 

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