Viola à brasileira

Instrumento português aclimatado em território nacional é revisto pelas novas gerações. Com Ivan Vilela, Roberto Corrêa, Paulo Freire e Di Freitas.

Julio de Paula 31/08/11 14:00 - Atualizado em 31/08/11 14:00

Ivan Vilela, Paulo Freire e Roberto Corrêa: músicos responsáveis por levar a viola às universidades brasileiras. (Fernando Vilela)

Como no tempo em que tudo era falante, ai, sei.
De manhã, o rio alto branco, de neblim; e o ouricuri retorce as palmas.
Só um bom tocado de viola é que podia remir a vivez de tudo aquilo.

(Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas)


Portuguesa de origem e brasileira por excelência, a viola aclimatou-se aos trópicos desde os primórdios da colonização. De Norte a Sul, o instrumento número um para acompanhamento do canto, popularizou-se, passando a integrar um sem número de tradições musicais, tornando-se, inclusive, peça fundamental para certos povos indígenas, como o Guarani.

Viola caipira, viola sertaneja, viola brasileira, de cocho, de machete, de pinho, de arame, de fandango – denominações que definem características e práticas de execução evoluídas ao longo dos tempos por velhos violeiros. Estes mestres, que asseguraram por gerações a fio o conhecimento de toques e afinações, especialmente nas últimas duas décadas, passaram a dividir seu conhecimento com instrumentistas do universo urbano que, buscando as “origens”, (re)posicionaram a viola no contexto da música popular contemporânea.

Roberto Corrêa (que abre e fecha esta lista pra tocar), está entre os principais articuladores desse “movimento” de dar valor ou até de recriar o instrumento e seu repertório. Ao seu lado, aparecem Ivan Vilela e Paulo Freire, todos do eixo Centro-Oeste/Sudeste. Fruto desses novos ensinamentos (afinal, a viola chegou à universidade), o Trio Carapiá explora texturas em sua formação instrumental de violas. Siba (e sua viola elétrica-envenenada que nos faz lembrar as histórias de pacto com o demônio), Di Freitas e, ainda, o grupo Gesta, representam aqui a “porção” nordestina ou da viola sertaneja. No meio deles, a primeira dama da viola pantaneira, Dona Helena Meirelles, e um mestre do sertão (das Gerais), o guia de folia Badia Medeiros.


Me acocorei em riba destas folhas,
catei meus carrapatos,
ponteei minha violinha e em toque rasgado
botei a boca no mundo cantando na fala impura as frases
e os casos de Macunaíma, herói da nossa gente. 


(Mário de Andrade)

 

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